domingo, 8 de julho de 2012

De bruços, deitado num canto qualquer, vislumbro a agitação de meu passado.A euforia consumia-me, a ignorância completava-me.Os desejos, até então, eram um fardo fictício, escorrendo entre músculos e ossos sucateados.
Lembro-me como cultivava felicidades escorregadias e de como o céu era frouxo e colorido com pipas.Disputava escárnios e engolia tijolos de dor, o que ainda faço.
As metas eram feitas de algodão doce, derretiam fácil; os circos apresentavam palhaços e não ilusões.A bagagem de viajem eram pijamas e não latas de cerveja.
As brigas da TV eram animadas e coreografadas, hoje são policiadas, infectadas e desalmadas.
Os rótulos eram brilhantes e pareciam comestíveis, hoje só percebo o quão era ingênuo de minha parte acreditar em suas caretas.
As festas duravam 2 horas e o prato principal era brigadeiro, o bolo solado da vizinha sempre era jogado no teto e eu nunca irei saber qual era o nome das donas que eu perturbava ao tocar inquietantemente sua campainha.
Minhas feridas eram curadas com saliva, hoje só tempo as curam.
Em um canto qualquer, nostalgiava a falta de ser criança, em sentido físico, literal.
Hoje, em um canto qualquer, sou criança, no escuro, mas só por alguns minutos.Essa coisa de evoluir rapidamente me acelerou um pouco.Eu não queria deixar a melhor parte da felicidade de lado.
Ainda uso pijama de dinossauro para dormir.



R.
Há um sótão vazio em minha casa.Costumo perambular no escuro que ali existe, fico me divertindo com a inexistência e o sabor de solidão que aquele comodo exala.
As paredes com tinta seca descascada sofrem o tempo.Chora e padece, cala!
Não há energia, nem sequer um lampião ou talvez um fósforo.Não há luz alguma, não há brilho, não há umidade e companhia.
Tudo é seco e escuro, é tudo tão... triste.


R.