domingo, 27 de maio de 2012

Ébrio louvo o vento que invade minha morada.
Ciente calo o abismo que ruge afora.
Os becos que sussurram em minha caminhada
Fazem-se pranto, ópio e chora.

Quão seja tentador cada trilha descaminhada
Meu ser imprime-se brando e ardiloso
Esquivando-se da sombra mal tragada
Formando um movimento singelo e formoso

Ahh, vida!Que desdém manuseia minhas linhas
Outrora fantoche, outrora anárquico
Outrora aposse, outrora não me tinhas

Sentado, sinto o vento apático
Onde fulguroso vinhas
Cair nesse corpo tácito
De relvas e entranhas minhas

Maldito seja o cume da solidão
Mesmo em tumba e fétido expelia
À garganta teu ópio me corria
E cabisbaixo, fragmentos caem ao chão

Inda assim, a brisa em mim continua
Onde sigo ao encontro de ti e embora
Más línguas fazem-na comua
Em ti, a felicidade em mim, mora.


R.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ninguém falou que seria fácil.Na verdade, ninguém se pronunciou, não era necessário.
Fui fadado a cair, contorcer e expelir os pigarros e contratempos que se alojaram em minh'alma.
Toda e qualquer circunstância que levou meu corpo a fraquejar foi por, muitas vezes, desacreditar que eu não suportaria a dor sozinho.
Acredite, você só sente dor porque é capaz de suportá-la.Isso que tu sente fisgar o peito é somente um aviso de que o momento o fará mais forte e capaz, lhe fará crescer, amadurecer, ascender.
Não há contratempo ao ser que é ciente do poder da dor.
E, para mim, não há nada mais belo que ser e ter um corpo ambulante, entupido de cicatrizes e desfechos, coagulando a essência de viver num mundo febril e artificial.

R.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Quando tudo aqui parece desmoronar, basta olhar-te miraculosamente, inebriar-me com tua vivacidade e acalentar-me com o sonho de ter-te, um dia, um mísero dia, acomodado somente em meu espaçoso coração egoísta para manter-me firme à rotina, não que sejas duro, mas necessário.
Não lhe reverencio, não lhe inalo, trago, abraço, calo, beijo; simplesmente aprecio-te de longe, quieto, mudo e sorrindo.
Traz-me vontade às preguiçosas preces, filosofias de causas perdidas, centelhas de esperança para essas causas, outrora perdidas.
Faz-me parecer débil num mundo de "pseudo-intelectuais-moralistas-sensacionalistas" acomodados.
Faz-me parecer o único são em meio a tantos iludidos.
Esconde aquele velho segredo que lhe disse num momento de aflição e também daquela outra quando murmurei sobre as estrelas estarem atrapalhando o teu espaço.
Te conto,mesmo assim, quando tudo aqui parece desmoronar, consigo estar em pé para, ao menos, apreciar esse luar esplendoroso que promoves nesse céu tão disputado.

R.
Errôneo de minha parte chutar as pedras que um dia passou a atrapalhar a estrada da felicidade.
Eu as recolhi e empilhei-as n'uma estante selecionada do meu quarto.Coloquei-as para que eu possa vislumbrar a maestria de suas existências.Era essencial da parte delas estar em meu caminho, e, por isso, rego-as todos os dias como se fossem flores.
Com esse cuidado, elas me retribuem exalando vitória.

R.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aparenta ser algo infantil essa coisa de viajar em seus sonhos.Aparenta ser adulto viver as obrigações de sê-lo.Aparenta ser feliz aquele malabarista em seu espetáculo circense.Aparenta ser triste aquele pagão uivando aos céus freneticamente.
Muita coisa aparenta ser o que interpretamos de antemão, mas não é.


R.
Acredito que a desculpa mais fajuta é aquela de aceitar o que você realmente acha que é.Isso se chama comodismo, aceitação, fracasso.
Tenha ciência de algo, as pessoas mudam de acordo com as circunstâncias de necessidade.Pressão e amor são algumas.Não é exatamente uma mudança forçada, basta entender que os fatores que te levam a mudar são em prol de seu desenvolvimento psicológico, social e físico.
A mudança é ,desde sempre, necessária para a formação de um ser.Não aceite o que você é.Aceite o que você tende a ser.
É o que eu acho...


R.
N'outro dia, peguei-me apreciando a chuva da madrugada, tão silenciosa e fria, tão momentânea e só.
No mesmo instante em que a gota pura de chuva solitária toca meus dedos, sinto meu corpo arrepiar.Ponho minhas mãos em concha e deixo que a água preencha aquele oco.Algumas gotas esvaem pois não as fechei corretamente, mas inúmeras delas ainda ficam em minha posse.
E, naquele momento, criei um vínculo com o líquido que se molda a mim, como se ele fosse feito pra estar ali.Sorri olhando para o fato.
Seria interessante se as pessoas se fizessem chuva, por mim, fadiga alguma iria fazer com que eu desatasse aquele elo com as mãos.Tornaria meu oco um lugar mágico de lágrimas do céu, mesmo em madrugadas frias, silenciosas e sós.
Eu amo a chuva.

R.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Judiou-me como não deveria judiar.Quebrou meu sentir como não deveria quebrar.
A ferida lateja lágrimas surradas de conquistas em vão, de infelicidades e vagabundas alegrias.
Pulsa, em meu peito, o rancor de sua deixa, inda que sua presença sufoque minha harmonia, prefiro a morte a ter outra alma a alimentar.
Se, por mera hipótese, eu não te ter até meu último suspiro, o significado que estipulei por toda minha existência simplificará num desejo vencido de um poeta fracassado.
E se, de minha cova eu ainda não habite, implica que meu esforço por sua vida fulmina à brisa de torpores que nos entrelaça.
Meu bem, vou perder-me um pouco, se interessas em vir para onde acredito que seja seu lugar, saiba que terás, de teu amado, tudo que sua essência consiste e em meu ser, enfim intríseco ao seu, toda a minha milagrosa labuta, transfigurar-se-há em nosso lindo universo.

Diário de um poeta vencido - R.
Cá, penso que as pessoas tem uma cabeça atrasada para certas situações.
E por esse fato, muita das vezes essas pessoas de pensamento/ação retardada costumam a relembrar dos fatos e de como deveriam reagir sobre esses, onde, outrora, reagiu de uma forma que calhou em arrependimento.
Pense só um pouquinho antes de tudo.Agir por impulso não é uma escolha, também não significa uma desculpa já que, após o espontâneo notoriamente sabemos que cada feito emergiu da inconsciência.

bla, bla, bla (pensamentos)

R.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Estamos perdendo essência.Estamos sucumbindo...
É essencial notar o quão longínquo estamos indo em termos de grau de insanidade.Veja, por favor, peço encarecidamente que perceba como os fatos estão desgovernados, como a trilha que, outrora fadada por hérois do milênio, está sendo surrupiada e desalmada pela geração agridoce atual.
Veja a puta oferecer sexo anal a 40R$; as fontes de energia defecarem corrupção social; a economia mundial jogada em um turbilhão de problemas.
O rico vivenciando e aplaudindo as carências do pobre.A cortina de fé perdendo o brilho.Os filósofos questionando a própria doença.Guerras nucleares em constante intimação.A objetofilia humana.Veja, veja em que hospício estamos cadastrados.Veja os bares entupidos de psicólogos; as mães lutando pelo câncer do filho e os filhos regugitando sobre as cabeças de suas mães.As classes sociais entrincheiradas, expelindo sua desigualdade e, iludidamente, sua pseudo-superioridade.
Veja o preço da comida ser mais cara que o chip de seu celular.O custeamento do oxigênio.As fábricas expelindo trabalho humano para fortificar-se com uma artilharia tecnológica.
Veja o amor envenenado pelas incógnitas dos parceiros atualmente postos a valorizar o prazer momentâneo.Veja as festas cada vez mais iluminadas, oferecendo excitação em cápsulas, rótulos e cabeças ocas.
Veja, meu amigo, veja em que crosta vivemos e a que ponto chegamos.Chegamos a ponto de industrializar a própria vida e tudo é tão transparente... transparente ao ponto de vermos nossa auto-destruição à olhos vistos.


R.